Fezes de pinguins impulsionam formação de partículas que influenciam o clima na Antártida
22/05/2025
(Foto: Reprodução) Pesquisadores da Finlândia concluíram que há uma relação entre a amônia liberada pelos excrementos desses animais e a formação de nuvens na atmosfera. Pinguins-de-adélia caminhando ao longo da costa da Antártida
Matthew Boyer
Um novo estudo mostra que colônias de pinguins na Antártida são fontes-chave de amônia, gás que favorece a formação de partículas e nuvens, influenciando processos climáticos na região. O alerta está em uma análise da Universidade de Helsinque publicada nesta quinta-feira (22) na revista científica "Communications Earth & Environment", do grupo Springer Nature.
A pesquisa aponta uma relação direta entre a amônia liberada pelo excremento (guano) dos animais (fezes e resíduos) na contribuição para o aumento da formação de nuvens no continente gelado. Isso é importante porque essas partículas podem influenciar a formação e propriedades das nuvens, afetando a dinâmica climática da região.
Os autores afirmam que a descoberta enfatiza a importância e os benefícios de proteger as aves marinhas e seus habitats, uma vez que os ecossistemas antárticos enfrentam pressões significativas devido às mudanças climáticas causadas pelas ações humanas.
Como a pesquisa foi feita
Para chegar a esse resultado, foram realizadas medições durante os meses de janeiro e março de 2023, período do verão austral, em um observatório atmosférico próximo da Estação Marambio, ao norte da Península Antártica.
Nesta fase, os pesquisadores coletaram dados de duas grandes colônias de pinguins-adélia que somadas, tinham aproximadamente 60 mil pares reprodutores da espécie.
Ao observar os resultados, eles perceberam que quando o vento soprava da direção de uma das colônias de pinguins que estava a cerca de 8 quilômetros de distância da estação, a concentração de amônia aumentava para até 13,5 partes por bilhão — mais de 1.000 vezes maior que o valor referência de 10,5 partes por trilhão.
Essa concentração de amônia é importante porque é um valor muito superior a amônia originada no Oceano Atlântico, que quando comparada a emitida pelos animais, é insignificante.
Por que a amônia é importante?
Quando o excremento do pinguim libera amônia, inicia-se uma cadeia de reações na atmosfera que, com a ajuda de outros gases como o ácido sulfúrico e o dimetilamina (DMA) do oceano, leva à formação de novas partículas (aerossóis) importantes para o clima, especialmente para a formação de nuvens. Entenda essas etapas:
1. O guano dos pinguins
O guano (as fezes) dos pinguins nas colônias costeiras da Antártida são a principal fonte de amônia gasosa na região. Mesmo depois que os pinguins migram, o solo "fertilizado" pelo guano continua a liberar amônia para a atmosfera;
2. Amônia na atmosfera
A amônia é liberada do guano para o ar como um gás que está presente na atmosfera perto das colônias de pinguins em concentrações significativas; além da amônia, os pesquisadores detectaram a presença de dimetilamina (DMA), outro composto orgânico que potencializa em até 10 mil vezes a formação de partículas, reforçando o papel das colônias de pinguins como fontes relevantes de aerossóis na Antártida;
3.Encontro com outros gases
Na atmosfera da Antártida, existem outros gases importantes. Um deles é o ácido sulfúrico, que vem principalmente da oxidação de compostos de enxofre;
4. Formação de pequenos aglomerados (clusters)
Esses gases — especialmente o ácido sulfúrico e a amônia — começam a se juntar na atmosfera, formando agrupamentos muito pequenos, quase como "mini-aglomerados" de moléculas. A amônia desempenha um papel crucial aqui: ela ajuda a estabilizar esses aglomerados iniciais de ácido sulfúrico. Pense nela como uma "cola" ou um "estabilizador" que impede que esses pequenos agrupamentos se quebrem;
5. Núcleos de Condensação de Nuvens (CCN)
Novas partículas continuam a crescer e podem atingir tamanhos onde se tornam grandes o suficiente para atuar como núcleos de condensação de nuvens (CCN). Os CCN são essenciais para a formação de gotículas de nuvem ou neblina.
Nuvens baixas sobre o litoral da Península Antártica e ilhas vizinhas
Lauriane Quéléver
Por que essa descoberta é importante
A partir desses resultados, o estudo fornece evidências importantes sobre as alterações na região da Antártida devido às mudanças climáticas e sobre a relação dos ecossistemas locais de pinguins e aves marinhas com processos atmosféricos como a formação de aerossóis e nuvens.
Outro ponto levantado pela pesquisa, é o equilíbrio ecológico ocasionado por esses ecossistemas, uma vez que eles preenchem um "vazio" por conta de a Antártida ter poucos tipos de vegetação e consequentemente, poucas fontes alternativas para a formação aerossóis.
